quinta-feira, 7 de maio de 2009

PSICOLOGIA DO SER...



“É estranho…”


Eis uma das respostas mais frequentes quando após uma avaliação de personalidade pergunto “Como se sentiu?”. “O que achou?”.
De repente quando estava a pensar sobre o que iria partilhar, ocorreu-me este exemplo centrando-me na palavra estranho. É uma palavra engraçada, pensei, relaciona-se com uma emoção, um sentimento que a dado momento não se consegue verbalizar, tem a ver com um certo “caos mental” que nos impede de clarificar e denominar um juízo.
Angústia ao estranho é a reacção comportamental que o bebé por volta dos 8 meses desencadeia perante rostos estranhos (chorando e não querendo estar próximo), mecanismo de defesa e protecção baseado nos referenciais de tranquilização e bem estar que associou aos rostos familiares representativos de satisfação.
Após estas duas constatações cheguei a uma primeira conclusão: “estranho”, pode representar em certa medida uma resposta defensiva, uma protecção que visa afastar conteúdos mentais que nos angustiam. Partindo desta premissa, atrevo-me a dizer que em determinadas fases da nossa vida parece que recorremos ao reportório defensivo dos bebés, mas de uma forma ainda mais restritiva: o problema é que os estranhos somos nós perante o nosso “eu interno”, o âmago da nossa existência emocional. Precisamos de ajuda tal como os bebés para nos conseguirmos regular, orientar e resolver o caos que se instalou.
Perante um choque emocional, “uma fase má”, o momento é mesmo de estranheza, de negação perante a desarticulação mental que experimentamos. Depois vem a palavra (a capacidade de verbalizar o vazio sentido, assim como no bebé quando começa a dizer o “não”), e com este meio surge a possibilidade de dar nome, consistência emocional ao estranho, neutralizando a sua carga de angústia: Então uma nova ordem emocional se estrutura lentamente……no final estaremos com certeza mais fortes.

“Enfim em certos momentos todos nos sentimos estranhos…”.
Até uma próxima…


Cláudia Duarte (Psicóloga Clínica)

2 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida a palavra que me ocorreu nas primeiras sessões de terapia, mas com o tempo tudo se clarifica na nossa cabeça, quem nós somos, como somos e aquilo que queremos ser ou não!

Anónimo disse...

Este é um texto fantástico que convida qualquer um à reflexão. Como seria de esperar, contém um significado especial para quem está na tal fase da angústia ao estranho. Tudo o que nos aproxima do desconhecido confrage-ns de horror. Depois vem o outro lugar comum, primeiro estranha-se e depois entranha-se. E pouco a pouco, vamo-nos habituando a lidar com o desconhecido, de tal forma que a dado momento, ele já não é mais desconhecido. Pode não estar bem identificado, deliniado. Pode não se ausentar quando dava jeito que assim fosse, mas pelo menos passou de estranho a familiar, e assim, mantendo-o por perto, vamos lidando com ele até decidirmos o que lhe fazemos, quando estivermos preparados. Pela ajuda nessa preparação, aqui fica o agradecimento. Fernando

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